quarta-feira, 9 de setembro de 2009

O Poder do Silêncio por Jean-Yves Leloup*


Aprenda com o silêncio a ouvir os sons interiores da sua alma, a calar-se nas discussões e assim evitar tragédias e desafetos...
Aprenda com o silêncio a aceitar alguns fatos que você provocou, a ser humilde deixando o orgulho gritar lá fora, a evitar reclamações
vazias e sem sentido...
Aprenda com o silêncio a reparar nas coisas mais simples, valorizar o que é belo, ouvir o que faz algum sentido...
Aprenda com o silêncio que a solidão não é o pior castigo, existem companhias bem piores...
Aprenda com o silêncio que a vida é boa, que nós só precisamos
olhar para o lado certo, ouvir a música certa, ler o livro certo.
Aprenda com o silêncio que tudo tem um ciclo, como as marés
que insistem em ir e voltar, os pássaros que migram e voltam
ao mesmo lugar. Como a Terra que faz a volta completa sobre
o seu próprio eixo, complete a sua tarefa.
Aprenda com o silêncio a respeitar a sua vida, valorizar o seu dia, enxergar em você as qualidades que você possui, equilibrar os
defeitos que você tem e sabe que precisa corrigir, e enxergar
aqueles que você ainda não descobriu.
Aprenda com o silêncio a relaxar, mesmo no pior trânsito, na maior das cobranças, na briga mais acalorada, na discussão
entre familiares.. .
Aprenda com o silêncio a respeitar o seu "eu", a valorizar o ser
humano que você é, a respeitar o Templo que é o seu corpo, e o Santuário que é a sua vida.
Aprenda hoje com o silêncio, que gritar não traz respeito, que ouvir ainda é melhor que muito falar...
Na natureza tudo acontece com poder e silêncio, com um
silêncio poderoso; por vezes, o silêncio é confundido com
fraqueza, apatia ou indiferença.
Pensa-se que a pessoa portadora dessa virtude está impedida
de reclamar seus direitos e deve tolerar com passividade todos
os abusos.
Acredita-se que o silêncio não combina com o poder, pois este tem-se confundido com prepotência e violência.
Sempre que a palavra poder lhe vier à mente, lembre-se do Sol
que nasce e se põe em profunda quietude; move gigantescos
sistemas planetários, mas penetra suavemente pela vidraça de
uma janela sem a quebrar.
Acaricia as pétalas de uma rosa sem a ferir, e beija as faces de
uma criança adormecida sem a acordar; vamos encontrar
na natureza lições preciosas a nos dizer que o verdadeiro poder
anda de mãos dadas com a quietude.
As estrelas e galáxias descrevem as suas órbitas com estupenda
velocidade pelas vias inexploradas do cosmos, mas nunca deram
sinal da sua presença pelo mais leve ruído.
O oxigênio, poderoso mantenedor da vida, penetra em nossos pulmões, circula discreto pelo nosso corpo, e nem lhe notamos a presença.
A luz, a vida e o espírito, os maiores poderes do universo, atuam com a suavidade de uma aparente ausência.
Como nos domínios da natureza, o verdadeiro poder do homem não consiste em atos de violência física. Quando um homem
conquista o verdadeiro poder, toda a antiga violência acaba
em benevolência.
A violência é sinal de fraqueza, a benevolência é indício de poder.
Os grandes mestres sabem ser severos e rigorosos sem renegarem
a mais perfeita quietude e benevolência.
Deus, que é o supremo poder, age com tamanha quietude que a
maioria dos homens nem percebe a Sua ação.
Essa poderosa força, na qual todos estamos mergulhados, mantém
o Universo em movimento, faz pulsar o coração dos pássaros, dos
bandidos e dos homens de bem, na mais perfeita leveza.
Até mesmo a morte chega de mansinho e, como hábil cirurgiã,
rompe os laços que prendem a alma ao corpo, libertando-a do cativeiro físico.
O verdadeiro poder chega: sem ruído, sem alarde e sem violência.
"Bem aventurados os mansos, porque eles possuirão a Terra". "Boa Terra em teus pés, Água o bastante em tua semente, bom Vento para o teu sopro, Fogo em teu coração e muito Amor em teu ser.” "O êxito ou o fracasso de sua vida não depende de quanta força
você põe em uma tentativa, mas da persistência no que fizer."
E em respeito a você, eu me calo, me silencio, para que você
possa ouvir o seu interior que quer lhe falar, desejar-lhe uma vida
vitoriosa.

Desejo uma semana de Paz e Silêncio para você.


*Jean-Yves Leloup, doutor em Psicologia, Filosofia e Teologia, escritor, conferencista, dominicano e depois padre ortodoxo, oferece através dos seus livros, conferências e seminários um aprofundamento dos textos sagrados, assim como uma abordagem e uma reflexão extremamente ricas sobre a espiritualidade no quotidiano graças à uma formação pluridisciplinar de rara complementaridade. Membro da organização das Tradições Unidas, doutor honoris causa e ciências da Universidade de Colombo (Sri Lanka), Jean-Yves Leloup ensina na Europa, nos Estados Unidos e na América do Sul em diferentes universidades e institutos de pesquisa em antropologia fundamental. É autor de mais de cinqüenta obras, além de ter comentado e traduzido os evangelhos de Tomé, Maria de Magdala, Felipe e João. Ele participa igualmente de vários encontros entre as diversas tradições.

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